terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mariano Tavares prepara novo CD, com canções próprias e parcerias

 
 

Sem Parar. Esse é o título do novo trabalho autoral do músico Mariano Tavares, que será lançado em abril. "Eu diria que Sem Parar é um disco mais simples e menos ambicioso que O SoBrado, e que por isso mesmo ele é mais rico, mais consciente, mais sofisticado. O fato de ser o segundo e de eu já conhecer a dinâmica do estúdio também contribuiu bastante", comenta.
Mariano explica que a simplicidade que buscou é o que impõe às canções um maior rigor. "O título foi retirado de uma das minhas canções favoritas, aquela que abre o disco, mas também se refere à minha relação de paixão absoluta pela música e pelo palco. A letra da canção Sem Parar faz referência à continuidade de tudo aquilo que não controlamos na vida, a natureza, o amor, o acaso, a beleza, o futuro, a inocência, o sonho, a morte; tudo aquilo que desliza nos espaços da vida, continuamente, ininterruptamente, sem parar, assim como a minha relação com o palco e com a canção", destaca.
Segundo ele, esse novo álbum quer apontar para o fato de que essa relação, tão vital e incontrolável para o compositor, também nunca se interrompe, apesar dos hiatos. "A sonoridade é propositadamente muito simples, quase folk, tentando criar uma atmosfera mais seca, com uso de poucos instrumentos como em Sacrifício (apenas piano e voz) ou Se Eu Te Chamar de Baby (apenas violão e voz). Penso que é um disco feito também de silêncios", explica Mariano.
O CD possui onze canções. Sete delas são inteiramente autorais e outras três são parcerias. "Com a poetisa e performer Civone Medeiros compus É Dando Que Se Recebe, texto retirado de seu livro Escrituras Sangradas. Há também Sacrifício, composta em parceria com o cantor e compositor Romildo Soares, e It's Not For Us, parceria minha com Hugo Vargas Soliz. Há ainda uma gravação de How Should I Your True Love Know, canção escrita por William Shakespeare para a personagem Ofélia, em Hamlet", aponta.
Sobre seu contato com a música e influências na área, Mariano Tavares é enfático em dizer que fez o mesmo percurso da grande parte dos cantores, cantando a chamada "música de barzinho", fazendo covers de canções famosas em apresentações longas que se estendiam noite adentro. "Mas bem cedo percebi que esse não era o meu caminho. A música autoral sempre esteve no centro das minhas intenções e vontades. O que mais verdadeiramente me importou foi sempre o ofício do cancionista, a performance cênica, a canção como "acontecimento" e como "construção". Em todos os shows continuo cantando algumas canções que amo e admiro, mas só se encontro um jeito de torná-las também minhas, através do canto. Desse modo, embora também me considere um cantor e o meu trabalho se distinga por uma forte teatralidade e dramaticidade cênica (assim penso eu), a escrita é o princípio", diz o poeta.
INFLUÊNCIAS E CENÁRIO MUSICAL - Mariano vê o cenário musical no Estado "com imenso otimismo". "Gosto muitíssimo de ver o que está acontecendo com a música autoral no Rio Grande do Norte, com alguns artistas finalmente cruzando as fronteiras do Estado de do País com atitude, talento e força. Gosto de ver e sentir essa explosão de bandas e artistas novos aparecendo e se afirmando como criadores, fundando ou ajudando a fundar uma cena, um mercado, uma identidade de rosto ainda incerto para o Estado. É bonito viver agora, ver essa ebulição e fazer parte dela", frisa.
As influências, para ele, podem vir de todos os lugares. "Não apenas da própria música, mas da literatura, da pintura, do cinema, da vida, dos encontros, etc". Ele acredita que "a canção é meio uma crônica do que você vive, ouve, ama e, muitas vezes, inventa para o mundo". "São tantas coisas que me tocaram e me modificaram ao longo dos anos que citar uns poucos talvez não faça muito sentido. Desde a música brega, que eu ouvia nos parques de diversão em Assu, até o esplendor de Antony Hegarty, é muita coisa. Mas entre tantas veredas por onde a minha curiosidade me levou, penso que poderia dizer que os encontros que tive com a música de Caetano Veloso, John Cale e Rufus Wainwright foram definitivos na minha formação e na maneira como penso e faço música", explica.
Ligado à literatura, Mariano diz ter "um respeito quase doentio (e por isso mesmo desnecessário) pela palavra "poeta". Por outro lado, sempre tendo o cuidado de me contradizer, também não entro naquela de dizer que a canção não é um poema. Essa é uma questão ultrapassada (uma perda de tempo, na verdade) discutida por gente ranzinza e tediosa. Certa vez tentaram argumentar que a letra da canção mais bonita não sobreviveria somente apenas como um texto disposto no papel. É claro que não sobrevive. Ela precisa da performance, da melodia e da harmonia, para se realizar por inteiro. Precisa da vinculação da fala ao canto, quer seja num fonograma ou no tempo teatral do agora, na execução ao vivo. Essa é sua mágica, seu mistério", diz.
Para ele, canções e poemas são, portanto, dois mistérios muito próximos, a um só tempo iguais, mas absurdamente diferentes. "Que a canção é um gênero poético, isso ninguém pode negar. Entretanto, um poema também não é um texto disposto num papel, é bem mais que isso, e está bem mais próximo da canção do que supõe nossa vã filosofia. Ainda assim, jamais me considerei um poeta. Sou, com muito orgulho, o que Luiz Tatit denominou de "cancionista", um sujeito que acredita no ofício de escrever e cantar aquilo que escreve, revestindo as palavras de continuidade e eternidade melódicas", salienta.
Certamente, do cancionista Mariano Tavares há de vir mais um belo trabalho, a exemplo do seu SoBrado.


Fonte : gazeta do oeste

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